Uma história tem sido contada a respeito dos primórdios de Narcóticos Anônimos, quando um dos membros fundadores foi visto revirando o lixo do lado de fora do escritório de serviços de NA. Quando perguntado sobre o que ele estava fazendo, ele respondeu que estava procurando garrafas vazias para retornar e pegar o depósito, dessa maneira ele poderia pagar pela postagem e responder a uma carta vinda de um membro de NA do Alasca. Todo comitê de serviço de NA certamente já se deparou com essa simples verdade em algum momento: os esforços pessoais de nossos membros podem ir longe, mas boa vontade sozinha não vai levar uma carta da California para o Alasca, de Bruxelas para São Petersburgo, ou de Teerã para Dubai.

Essa história ilustra dois tipos de contribuições, como descrito na nossa Sétima Tradição. De um lado, doamos nosso tempo e energia: indo regularmente às reuniões, participando e partilhando com os recém-chegados sempre que podemos. Nossas esperanças e intenções são importantes, mas é o que nós fazemos que importa. Nós nos envolvemos em apadrinhamento e serviço. Nós nos doamos livremente sem expectativa de receber algo em troca. Colocar nossa gratidão em ação servindo Narcóticos Anônimos, traz o real significado para nossa crença de que “só dando podemos manter o que temos”.

“Nossas esperanças e intenções são importantes, mas é o que fazemos que importa.”

Por outro lado, contribuímos com dinheiro para ajudar a pagar pelos serviços que mantêm NA vivo e crescendo. Os dois tipos de contribuições são importantes – de fato, a maioria dos membros contribui com seu tempo, energia e dinheiro – mas neste folheto, nós estamos principalmente preocupados com as contribuições financeiras voluntárias. Nossos grupos passam uma sacola, um chapéu, uma caixa ou uma bandeja em algum momento durante cada reunião para que os membros possam dar dinheiro. O dinheiro que colocamos nas sacolas, permite aos nossos grupos manter as portas abertas e criar uma atmosfera acolhedora de recuperação para aquele recém-chegado que, inseguro, na porta de um grupo, se questiona se entra ou não na reunião. ¹

O dinheiro que chega à estrutura de serviço ajuda a manter os serviços que permitem que outros adictos da nossa comunidade local ou ao redor do mundo saibam que há esperança. Assim como nossas despesas pessoais – aluguel, alimentação e outros gastos – aumentam ano a ano, a quantidade de dinheiro que é necessária para manter esses serviços básicos aumenta continuamente, especialmente com o crescimento de NA e com as novas maneiras que procuramos para atingir adictos.

Podemos observar alguns membros dando um pouco mais ou um pouco menos do que outros e nos perguntamos se estamos dando a quantia “certa”. Dar nossa contribuição justa não significa que todos doam o mesmo valor; significa que cada um de nós doa o quanto pode, de acordo com o quanto temos. Quando nossas vidas melhoram como resultado da nossa recuperação, muitas vezes descobrimos que podemos doar mais. Talvez nos sintamos desconfortáveis quando percebemos que as bebidas e o lanche que nós compramos no caminho da reunião, custa duas ou três vezes a quantia que colocamos na sacola. Depois de refl etir sobre o que é mais valioso para nós, geralmente decidimos colocar mais na sacola quando podemos. Independente de termos muito ou pouco, doar para nossas estruturas de serviço é um ato de fé que nos ajuda a abrir mão de alguns de nossos medos. Fazer isso, pode nos lembrar que, enquanto nossas necessidades espirituais estão sendo cuidadas, problemas rotineiros são reduzidos a um nível confortável. Temos fé que um poder maior do que nós vai se expressar através de nossa consciência de grupo.

“…para promover nosso propósito primordial…” –Décimo Primeiro Conceito

Um trecho do Texto Básico frequentemente citado diz, “O recém-chegado é a pessoa mais importante em qualquer reunião, porque só dando podemos manter o que temos”. Nossos grupos colocam esta ideia em prática de muitas maneiras. Depois que a reunião se acaba, por exemplo, um recém-chegado conversa com alguns membros daquele grupo e um deles pergunta se o recém-chegado tem um Texto Básico. Ele talvez responda perguntando quanto custa o livro, ou dizendo: “Talvez eu compre um a semana que vem.” Os outros membros sorriem e asseguram-se de que o recémchegado vá para casa com um livro. O recém-chegado menciona alguma coisa a respeito de pagá-lo depois, e a resposta é simples: “Apenas continue voltando, um dia desses, você também poderá comprar um livro para um recém-chegado.”

““O recém-chegado é a pessoa mais importante em qualquer reunião, porque só dando podemos manter o que temos.”

Praticar o autossustento em NA não signifi ca simplesmente que cada um de nós caminha com suas próprias pernas; nós retribuímos NA não simplesmente cuidando de nós mesmos, mas fazendo com que o recémchegado encontre recuperação. Muitos de nós ouvimos em partilhas nas reuniões, que “Mesmo que eu fi casse limpo por 100 anos, nunca poderia retribuir NA a liberdade que me foi dada aqui”. Na nossa adicção, nós só tirávamos dos outros, o que nos deixava vazios. Em NA, aprendemos a doar, e descobrimos que doar nos preenche. No começo, muitos de nós sentiam que tinham a obrigação de retribuir o que nos foi dado livremente, mas quando começamos a ter uma maior perspectiva do que NA pode ser ou oferecer, somos motivados por um desejo mais intenso de contribuir.

Membros de NA que chegaram antes de nós asseguraram que nós pudéssemos encontrar um caminho aqui. Eles mantiveram as portas das reuniões abertas, colocaram dinheiro na sacola para pagar pela linha telefônica e cartazes, e trouxeram literatura e pôsteres para as salas para partilhar a mensagem de NA. Agora temos a oportunidade, tanto quanto a responsabilidade, de dar a outros adictos a chance de ouvir a nossa mensagem. Nossas contribuições financeiras ajudam a pagar pelos serviços em todos os níveis: esforços locais para levar a mensagem; apoio regional e serviços para as áreas; e serviços mundiais, que não apenas dão assistência às comunidades de NA existentes, mas servem para tornar NA acessível em outras comunidades. Esforços de tradução, literatura gratuita ou subsidiada, oficinas de desenvolvimento da irmandade – todos esses serviços são feitos em nome de NA como um todo, para tornar nossa mensagem disponível aos adictos que ainda sofrem no mundo todo.

A maioria de nós sente-se privilegiado e responsável tempo e dinheiro para NA nos dá a oportunidade de manifestar esse sentimento de forma concreta e reforça nossa ligação espiritual com o sistema de serviço e o programa. O Segundo Conceito nos lembra que os grupos de NA têm “A responsabilidade final e a autoridade sobre os serviços em NA”. Por exemplo, talvez tenhamos ido a uma reunião onde a sacola foi passada duas vezes porque não foi arrecadado o sufi ciente para pagar o aluguel na primeira vez, e os membros contribuíram mais na segunda coleta. Quando existe uma conexão clara entre o dinheiro que colocamos na sacola e as necessidades de NA, a maioria de nós se dispõe a doar mais. Afinal de contas, NA pertence a nós e o bem-estar depende de nossos esforços. Começamos a perceber que não temos que esperar até que alguma parte da estrutura de serviço esteja passando por dificuldades para contribuirmos.

Existe uma satisfação espiritual em dar livremente para manter a irmandade que salvou nossas vidas. Damos o que podemos, sabendo que nossas contribuições se tornam parte de um esforço mundial para compartilhar a recuperação.